Finalizando a série de lendas gaúchas em parceria com o artista plástico Marco Baptista, hoje teremos a lenda da Teiniaguá, também conhecida como Salamanca do Jarau, personagem típica do folclore gaúcho e interpretada pela atriz Juliana Paes na minissérie "A casa das Sete Mulheres".
A Teiniaguá
Há muitos tempo atrás, quando a Espanha árabe veio ao chão, o país tornou-se um inferno. Pobreza, morte, restos de uma luta destruidora. Como àquela época era comum que fosse morta toda a "realeza" do país tomado, os poucos que restaram procuravam esconder-se da maneira que podiam. Havia entre os mouros uma princesa belíssima, conhecida por ser uma das mais belas mulheres existentes. Sua família temia que fosse capturada e morta, ou pior, que fosse dada em casamento a algum dos invasores, ou mesmo violentada. Em meio a esse desespero, encontraram uma velha senhora que dominava diversos encantamentos, e com sua mágica fez com que a bela princesa moura se transfigurasse numa velhinha, para que não viesse a ser reconhecida. Fugiram daquele inferno muitos mouros, e com eles a sua princesa transfigurada.
Um grande grupo deles veio se estabelecer na região sul do Brasil. Logo de chegada, deram de cara com o Anhangá-Pitã, demônio dos nativos. Amedrontados, contaram-lhe a história da pobre princesa e o diabo decidiu ajudá-los. Ele então transformou a mulher em uma salamandra que tinha a cabeça como uma pedra brilhante, ou "Teiniaguá", e ela viveria numa lagoa no Cerro do Jarau. E para lá ela foi.
Atrás da aldeia havia uma Igreja. Em um dia qualquer um sacristão, foi refrescar-se no rio. De repente a água começou a ferver e surgiu a Teiniaguá. Ele já conhecia a história e sabia que ela era uma princesa moura virgem que, se fosse conquistada, traria ao seu conquistador muita felicidade.
Ele então colocou-a em uma guampa e levou-a até seus aposentos. Lá, ele abriu a guampa e ela se transfigurou em princesa, belíssima como era. Então ela lhe pediu vinho, e ele foi roubar do vinho do padre para lhe dar. E todas as noites acontecia o mesmo: ele abria a guampa, ela se tornava em princesa, pedia vinho, ele roubava o vinho do padre e lhe dava. Os padres, desconfiados, decidiram pegá-lo de surpresa e invadiram seu quarto, pegando-os no flagra. A princesa, assustada, tornou-se em Teiniaguá e fugiu para as barrancas do rio Uruguai. O sacristão acabou preso e sendo condenado à morte, por ter se envolvido com um ser demoníaco.
A Teiniaguá ficou sabendo da execução e, com o coração apertado, utilizando-se de magia, foi até a aldeia e salvou seu amado. No entanto, os dois ficaram presos a um encantamento, e só poderiam ser libertos de sua prisão encantada, no cerro do Jarau, quando uma pessoa de de puro coração conseguisse cumprir todas as provas de coragem. Quando cumprisse as provas, ele teria direito a um desejo, mas precisaria desistir desse desejo para que o encantamento se quebrasse.
Muitos tentaram cumprir as provas, mas ninguém era bom ou forte o suficiente. Duzentos anos se passaram sem que ninguém quebrasse o encanto.
Mas certo dia, enquanto campeava o gado, um gaúcho de coração puro e valente chegou à gruta do Jarau. Ele conhecia a história do encantamento, que era contada pela sua avó charrua desde que era pequeno. Encontrou o sacristão, lhe saudou e perguntou sobre as tais provas. Tendo conhecimento delas, cumpriu-as todas. Então, foi enviado à presença da Teiniaguá, que lhe concederia um desejo. No entanto, o gaúcho nada desejava.
Ao montar em seu cavalo, o sacristão ofereceu-lhe uma moeda de ouro como lembrança por sua passagem por ali. Ele pegou-a, pois não desejava fazer desfeita. O tempo se passou e o gaúcho sequer se lembrava mais da moeda.
Um certo dia um amigo seu anunciou que queria desfazer-se de sua boiada. O gaúcho então viu nisso a oportunidade para comprar ao menos alguns bois. Lembrou-se da moeda e decidiu trocá-la por alguns bpis. Não poderiam ser muitos, mas pelo menos garantiria alguma coisa com a moeda. Acontece que, quando foi sacar a moeda da guaiaca, não pararam mais de sair moedas e ele acabou comprando a boiada inteira!
A notícia correu e as pessoas começaram a desconfiar dele, pois era muito pobre e jamais teria condições de fazer a compra que fez. Desconfiavam todos de um pacto com o diabo e afastavam-se dele. Solitário e tristonho, o homem decidiu devolver a moeda maldita lá no Jarau, pois queria ver-se livre daquilo.
Ao devolver a moeda, ele estava desistindo do dom que recebera, e o encantamento foi quebrado. O sacristão e a Teiniaguá foram transformados em dois belos jovens e sua prole trouxe descendência indígena-ibérica ao Rio Grande do Sul.
Esta lenda faz parte do folclore gaúcho, reescrita por Denise Baptista. Aquarela de Marco Baptista. Esta série de posts é uma parceria entre os blogs Pensando a Educação e Marco Baptista Multimídias.